domingo, 9 de março de 2014

Direita x Esquerda

Em 07/03/14, David Coimbra publica em Zero Hora a crônica O Monstro de Goiânia, falando de um assassino frio e cruel que matou uma mulher em um assalto, diante de seu filho de 1 ano de idade.

Fiquei muito impressionada com a crônica de hoje do David Coimbra na ZH.
Além do óbvio, a narrativa do crime, o que me impressionou foi a clareza da análise sobre as opostas posturas da esquerda e da direita brasileiras em relação à segurança pública, às origens da violência, aos métodos corretivos e/ou punitivos.
Não sou de esquerda. Ando de saco cheio da esquerda e sua profusão de palavras, seu paternalismo incapacitante, sua ditadura velada.
Mas também não sou de direita, porque não concordo com o consumismo desenfreado e devastador e os abismos sociais que ela propicia.
Também não aprovo a manipulação da mídia que ambas exercem com maestria para conduzir sua manada.
E me causa repugnância quando ambas se põem lado a lado nos palanques com fins eleitoreiros, numa demonstração asquerosa de falta de coerência. Não estão dialogando, estão apenas somando números.
Na verdade, me identifico muito mais com a sabedoria do velho Confúcio, que dizia que "a virtude está no meio".
Acredito que enquanto não chegarmos a um meio termo, a um diálogo verdadeiro e de nível elevado entre esquerda e direita, enquanto não abandonarmos os extremismos e os fanatismos políticos, estaremos fadados a isto aí que o Coimbra tão bem descreveu.

Então, chego aos 40

em 27 de fevereiro, completei 40 anos

Então, chego aos 40.
Não sei como funciona para as outras pessoas que chegam nesta idade, mas para mim parece mesmo que há uma marca, um divisor de águas.
A julgar pela longevidade da família, pelo histórico fisiopatológico dos meus ascendentes, pela evolução das ciências da saúde que estendem cada vez mais a existência, e considerando talvez um pouco de sorte ou proteção divina que me mantenham distante de algum acidente de percurso, devo ter chegado, mais ou menos, naquilo que deve ser a metade da minha vida.
Suponhamos que o tempo que eu tive até agora seja o tempo que tenho pela frente. O que eu vejo?
Para começar, vejo uma mulher bem mais interessante do que aquela dos anos anteriores. Salvo umas poucas vezes em que um descontentamento generalizado toma conta de mim, eu gosto muito do que vejo no espelho todos os dias, e gosto mais ainda daquilo que deposito sobre o travesseiro a cada noite. Eu gosto desta pessoa que os anos construíram. Eu gosto do que eu sei, eu gosto do que eu sinto, e me agrada muito também essa capacidade que eu tenho de perceber quando não estou gostando de alguma coisa... e muda-la.
Chego à segunda metade da vida com muito mais projetos do que tive na primeira. Com um humor melhor. Com mais vontade de realizar meus sonhos. Finalmente, aos 40 anos, eu tenho um sonho! Até aqui, fui vivendo um dia depois do outro, aproveitando oportunidades à medida que surgiam, mas nunca havia planejado nada para mim. Agora eu tenho um sonho! E uma possibilidade concreta de realiza-lo!
Eu nunca parei para pensar em como seria minha vida aos 40. Mas se tivesse pensado, acho que não teria me imaginado como estou agora.
Eu que fui uma adolescente quase esquálida, magérrima, jamais me imaginaria bem acima do peso ideal.
Eu que não queria ter filhos até coisa de dez anos atrás, hoje não conseguiria me ver em outra condição que não a de mãe.
Eu que não vivia sem uma televisão, totalmente viciada em novelas e mais uma meia dúzia de programas, hoje esqueço de ligar aquela que já foi a minha grande companheira.
Eu que idolatrava meus professores da faculdade, que me considerava uma grande profissional, que achava que a farmácia era minha verdadeira vocação, que ser farmacêutica era tudo o que eu poderia fazer de melhor na vida, hoje estou determinada a fazer outra coisa, seguir outros caminhos, deixar a farmácia de lado. Hoje eu sequer compreendo como alguém com o meu tipo de personalidade, com o meu perfil, cometeu esta falha na escolha profissional. E quem diria que, chegando aos 40, eu teria coragem para corrigir a rota?
Nem tudo são flores, evidentemente. Embora a capacidade de analisar o que eu vejo tenha se aprimorado com o tempo, a visão propriamente dita está cada vez pior. E está difícil me convencer de que aqueles óculos que estão na caixinha, dentro da bolsa, deveriam estar no meu rosto.
A coluna já não me ajuda muito. As pernas doem. A pressão nem sempre é minha amiga. Minha glicemia não é flor que se cheire. Os ovários me pregam peças. A pele está cada vez mais ressecada e obviamente a cara está se enchendo de rugas. E é difícil internalizar que alguns cuidados serão necessários, que a alimentação precisa ser controlada, que os exercícios físicos são necessários, se eu quiser de verdade que esta seja a metade da vida e não o final. Pelo menos o pai e a mãe demoraram horrores para ter cabelos brancos. Os meus nem começaram a aparecer!
Mas estes ônus fisiológicos não se comparam em intensidade e importância ao vigor interno. À medida que o corpo envelhece, a mente remoça a olhos vistos!
Neste aniversário de 40 anos, só quero agradecer à vida por tudo o que vivi até aqui e pela possibilidade de ter um futuro tão interessante pela frente. E se posso pedir alguma coisa, apenas que eu envelheça com dignidade.
É muito bom chegar aqui com tanto chão caminhado e na bagagem tantas histórias para contar. Mas é ainda melhor olhar o horizonte à frente e ver muitos caminhos a percorrer e projetos a concretizar.
Feliz aniversário, Mariazinha! TU MERECES MUITO!!!!!!

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O Bonsai

Sempre achei muito bonita a arte do bonsai. Há alguns destes seres que são verdadeiras esculturas vivas, moldados por mãos pacientes e habilidosas.
Tempos atrás, ganhei de uma amiga uma miniatura de pitangueira. Ainda jovenzinha, idade denunciada pelo caule pouco desenvolvido, a pequenina ia muito bem em seu vasinho. Caprichei nos cuidados: podas de galhos e raízes, regas adequadas, muito carinho. Isso durou algum tempo, mas em detrimento de todos os meus esforços, minha pitangueira-bonsai não viceja. Ela está ali, cabisbaixa, com suas folhinhas pendidas, como pendem os braços pesados de quem desistiu da vida.
E eis que me ocorreu uma ideia, uma epifania. Ela não foi feita para isso.
Criar árvores que deveriam ser enormes em espaços tão restritos é como criar pássaros em gaiolas: não foram feitos para isso.
Quem de nós, em algum momento da vida, não sentiu vontade de se expandir, de ocupar um espaço bem maior, num espreguiçar longilíneo e amplo, sem restrições, sem limites?
Estou me sentindo bem assim neste exato momento. Sinto minhas pernas aprisionadas num pequeno vaso que me impede de crescer e ser tudo aquilo que eu nasci para ser. Como um pássaro na gaiola, estou cantando para o nada, cantando para ninguém, ou ao menos cantando para ninguém que realmente tenha importância.
Sou o bonsai que não tem mais para onde crescer, que vai se moldando à vontade alheia, sem poder ser aquilo que ele é de verdade: uma árvore.
Não tenho por hábito o comodismo e, diferente de um bonsai ou de um pobre pássaro engaiolado, posso agir sobre o meio e mudá-lo. Posso agir sobre mim e mudar-me.
Mas enquanto as mudanças que encaminho para a minha vida não se concretizam, vou libertar minha pitangueirinha. Será plantada em um solo amplo e fértil, onde suas raízes possam ir até onde quiserem, onde sua copa não será mais podada, onde será aquilo que verdadeiramente nasceu para ser: uma grande e linda pitangueira, vestida de noiva no meio do inverno, coberta de pitangas coloridas no final da primavera, vistosa e majestosa como cabe a uma árvore.
Minha amiga haverá de compreender que o presente que me deu merece mais de mim do que água e tesoura.

domingo, 3 de novembro de 2013

10 anos de Conceição

Hoje estou completando 10 anos de Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Foram 10 anos de muito aprendizado, muita luta, muita construção, muita produção.
No dia 03 de novembro de 2003 eu deixava para trás a docência acadêmica e toda uma rotina flexível, arejada, confortável de certa forma, para ingressar na rotina hospitalar, com todas as suas duras implicações. Foi um choque! Tentei trazer comigo ao máximo a leveza e a flexibilidade, mas isto nem sempre cabe na farmácia hospitalar. O fato é que o hospital tem outros encantos, outras possibilidades, basta ter os olhos abertos.
No final das contas, "rotina" foi o que eu menos tive ao longo destes anos. Cada dia é novo e surpreendente (para o bem e para o mal!) e tudo muda de uma hora para outra. Para esta criatura avessa à mesmice que eu sou, é a maneira ideal de trabalhar!
Durante estes 10 anos, fiz algumas coisas de que muito me orgulho e que não posso deixar passar em branco.
O projeto de reestruturação da farmácia hospitalar do GHC foi escrito por mim, compilado das propostas dos colegas dos 4 hospitais do grupo. O conteúdo é compartilhado, mas o texto, a redação, são meus. Assim como a apresentação formal aos representantes do Ministério da Saúde e à diretoria do GHC daquela época. Foi em 2005. 
Boas ou ruins, o projeto das estações de dispensação é meu. Eu sentei com o papel, o lápis e a régua nas mãos e tracei linha a linha o desenho, conforme as necessidades que me foram passadas.
Ajudei a estruturar o ingresso da farmácia na ênfase Saúde da Família e Comunidade, da Residência Integrada em Saúde (lembra Luciane Kopittke?), lá no seu início.
E escrevi o projeto que resultou na inserção da farmácia na ênfase Atenção ao Paciente Crítico da RIS.
Fui preceptora da RIS por 2 anos e meio, na ênfase Onco-Hematologia (saudades de trabalhar com as amigas Tessa GuimarãesCristina Nunes de BarrosIsabel HacknerRenata Lorenz e Sandra von Hoonholtz).
Organizei o livro Conversando Sobre Erros de Dispensação, escrito em conjunto com os trabalhadores da farmácia, propondo um jeito diferente de fazer educação em saúde.
E escrevi o projeto que hoje resultou na abertura da farmácia da emergência do Hospital Conceição. Escrevi em 2005 e reescrevi em 2012. E hoje ela está funcionando. Minha mais querida "filha" dentro do HNSC!!!!!! Não é Lais Oliveira?
Mas de tudo, o que eu fiz de melhor e mais importante dentro do HNSC foram amigos. Tanta gente, tanta gente, gente que já foi embora, gente que ainda está por lá, gente com quem eu convivo diariamente e outros que quase não encontro mais. Amigos queridos, que me oportunizaram mais do que trabalhar no HNSC, mas VIVER o HNSC.
Mari HorszczarukAna Catarina RomanoAna Paula Porsch, Sharon Manssur Kirchner, Raquel Denise Petry, Priscila Aguirres, Mônica Padilha, Carine Morschel, meus queridos residentes Paula Stoll e Diego Würst, Lisia Hausen Gabe, minha queridíssima Irene Souza, Thaís Canella, Letícia Alves, Rafaela Alvariz, João Madruga e tantas outras pessoas. A todos eu agradeço a amizade, o carinho, o companheirismo! Adoro vocês!
Há muito chão pela frente e muitas vezes me questiono se ainda estou disposta a trilhar este caminho. Sejam quais forem as decisões daqui para a frente, não posso virar as costas para 10 anos de história de vida, de amizades, de construções e muito trabalho. O HNSC mora em mim, sempre vai morar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O terceiro parto


Nós, mulheres, quando engravidamos, temos sempre uma pontinha de preocupação com a dor do parto.
O parto natural, mais óbvio, mas que hoje conta com recursos como a analgesia. Ou mesmo uma cesariana, em que há a dor inerente a um procedimento cirúrgico.
Mas não contamos com as dores dos partos que se seguirão ao longo das nossas vidas.
Não sei se é daí que vem a palavra, mas todo parto é uma despedida, um rompimento, um partir.
Ao nascer, a criança parte do corpo da mãe para a sua própria vida. A expulsão do útero e o rompimento do cordão umbilical determinam que agora são dois corpos e não mais um só. E esta é só a primeira despedida.
O fim da licença maternidade, o retorno ao trabalho, o primeiro dentinho, o ingresso na escolinha, o fim da amamentação, aprender a ler, dominar o computador, e tantos outros momentos de consolidação da autonomia da criança, representam pequenas despedidas, sinais do crescimento, da evolução e da inevitável marcha do tempo.
Cada uma destas passagens tem uma maior ou menor importância para cada mãe e, para mim, cada uma delas foi bastante significativa. Mas além do nascimento da minha filha, meu segundo grande parto foi deixar de amamentá-la no peito. Tive muitas dificuldades com a amamentação, que era algo que eu desejava muito e me empenhei demais para que fosse possível. Meu segundo parto aconteceu no dia em que ela, por conta de uma infecção respiratória, deixou de mamar no peito e ficou só com a mamadeira, muito mais fácil de sugar. Ela tinha apenas 5 meses e foi muito sofrido para mim.
Agora ela está com 6 anos, e eu me preparo para viver o meu terceiro parto.
Eu e minha filha somos fisicamente muito próximas. Sempre fiz questão do contato físico, muitos abraços, beijos e carinhos. Acredito no poder do toque na relação entre mãe e filho, no estreitamento dos laços, na segurança e no conforto que ele proporciona. Sempre gostei de carregar minha filha no colo, não com a intenção de poupá-la de caminhar, mas pelo conforto que um colinho representa. E ela, até o momento, não se constrangeu em me pedir colo. Estende os bracinhos e "mamãe, me dá colinho?".
Mas está acabando. Ela está crescendo e já quase não consigo sustentar o seu peso. Minha filha é esguia, alta e magra, mas evidentemente não terá este tamanho para sempre. Para erguê-la, é preciso toda uma manobra. Seguro embaixo de suas axilas, nos posicionamos com as pernas um pouco flexionadas e eu ordeno: "Pula!". No impulso gerado para cima, puxo-a para o meu colo e ela enlaça minha cintura com as perninhas. Assim seu peso é melhor distribuído e eu aguento uns dois ou três minutos, no máximo. Estou por parir uma criança crescida, uma mocinha, com peso e altura incompatíveis com as minhas forças. Sentirei uma saudade imensa desta menininha que ela ainda será por pouco tempo. Colinho, em breve, só com a mamãe sentada. Mas este colo estará sempre disponível para acolhê-la quando quiser ou precisar.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal!


Queridos amigos, que este Natal traga muita paz aos nossos corações, 
que possamos sorrir entre os nossos amados, 
que a luz a brilhar seja muito mais do que aquelas do pinheirinho, 
que os nossos sonhos sejam o esboço dos nossos projetos, 
que os presentes não sejam apenas aqueles nos pacotes, mas os sentimentos mais profundos da alma de cada um, 
que possamos ser gratos por tudo o que temos e por tudo o que não precisamos ter, 
que possamos compartilhar um pouco do que nos é farto, seja o pão de nossas mesas, seja o amor de nossos espíritos,
que possamos reconhecer os motivos para comemorarmos e esquecer aquilo que nos causa dor.
Um Feliz e Iluminado Natal a todos os meus amigos queridos!

domingo, 23 de dezembro de 2012

A tradução das mães - a verdade sobre o que as mães falam

Não precisa mais chorar, meu anjinho! Já passou! Está tudo bem! = Fica quieta que eu não aguento mais essa choradeira!

Come toda a tua comida, para ficares bem forte e saudável. = Eu passei horas cozinhando a tua comida favorita e agora tu não vais comer?


Leva um casaquinho, pode ser que esfrie. = Tu não me aparece gripada que eu não estou com paciência para passar a noite em claro por causa da tua tosse.


Não queres comer o bolo? Não tem problema, meu amor. = Oba! Sobra mais pra mim!


Crianças, aproveitem o dia de sol e vão brincar lá fora. = Deixem a casa em ordem, que estou aproveitando o dia de sol para fazer uma faxina.


Está chovendo, não vai para a rua para não ficares doente. = Está o maior lodaçal lá fora. Tu não embarra os pés para depois sujares a casa toda!


Não toma muito refrigerante que não faz bem para a saúde. = Já viu o preço da Coca-Cola?


Que lindo seu desenho, filhinha! = E agora? Como é que eu vou tirar essa mancha de caneta do sofá branco?


Recolhe todas os teus brinquedinhos depois de brincares, tá bom? = Por que diabos eu resolvi comprar essa Polly, com todos esses vestidinhos, sapatinhos e acessórios?????


Uma criança preenche a vida da gente! = Não tenho um minuto de sossego!


Aprendo todos os dias com os meus filhos. = Mãe!!!! Agora eu te entendo!!!!


Eu te amo, meu anjo! = Eu te amo, meu anjo!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Já acabou?


Fim do mundo é uma criança de 2 anos ser estraçalhada pelo pit bull da família.
Fim do mundo são os péssimos motoristas, que dirigem de forma imprudente, negligente, matando sem pudor.
Fim do mundo é o lixo jogado nas ruas (por quem mesmo? hein?).
Fim do mundo é votar mal. Políticos corruptos não aparecem do nada. Eles são eleitos por alguém.
Fim do mundo é dar liberdade ilimitada aos filhos, nunca dizer não, e criar verdadeiros déspotas para o futuro.
Fim do mundo é aceitar de cabeça baixa a violência que está instalada por aí, não tomar atitudes pró-ativas para acabar com ela, como não comprar drogas por exemplo (sim, usuário é criminoso e tem que ser punido, porque quem favorece o crime é cúmplice).
Fim do mundo é comer mal, não fazer exercícios, fumar, beber e depois achar que o SUS, sobrecarregado, deveria atender melhor.
Fim do mundo é a gente aqui, de braços cruzados (tá bom, vá lá, com as mãos no teclado), esperando que alguma coisa mude milagrosamente, ao invés de tomarmos as atitudes necessárias.
E aí? Já se deu conta de quem está acabando com o mundo?

domingo, 9 de dezembro de 2012

Jesus e o Papai Noel se encontram


Peça natalina escrita para encenação do grupo de pais da Associação Espírita Dom Feliciano para as crianças da evangelização, na festa de encerramento das atividades anuais e comemoração do Natal, em 08/12/12.

PRIMEIRA PARTE:
JESUS - Bom dia, Papai Noel!
PAPAI NOEL - Bom dia, Jesus... Não, na verdade não está nada bom...
JESUS - O que está havendo, irmão? Por que esta tristeza?
PAPAI NOEL - Você já deu uma passadinha nas lojas? Estão decoradas para o Natal desde a passagem do Dia das Crianças! É um absurdo!
JESUS - Calma Papai Noel, não é preciso tanta amargura. Vamos conversar um pouco...
PAPAI NOEL - É esse consumismo! As pessoas só estão querendo comprar e ganhar presentes. Poucos lembram que é o teu aniversário. Poucos se lembram de ajudar a um necessitado. Só querem lucros, presentes, festas, brilhos!
JESUS – Amigo Noel, você é um amigo importante, que Meu Pai, Deus, colocou ao meu lado para lembrar aos homens que eles devem ser bons. Vamos tentar ver o lado bom das coisas. Se os enfeites são postos mais cedo, é uma oportunidade das pessoas lembrarem antes que o Natal está se aproximando.
PAPAI NOEL - Que lado bom, Jesus? As pessoas só me vêem para entregar presentes. Eu nunca quis ser o personagem principal dessa festa, que é sua! O seu aniversário! Onde já se viu o animador da festa ser mais importante que o aniversariante? Avisa aí que o Papai Noel está chateado! Estou desistindo deste trabalho!
Papai Noel se afasta um pouco, senta em um canto, chorando, muito triste, com o saco de presentes vazio nas mãos.
(Narrador) JESUS fica pensando:
JESUS: Pobre Noel! Seu desejo sempre foi o bem. Preciso fazer alguma coisa. Ele é um símbolo importante do Natal. Principalmente, para lembrar as pessoas que não são cristãs que esta é uma época de amor, alegria, esperança e caridade. Preciso de todos os aliados possíveis na divulgação do bem. Não posso perdê-lo!
(Narradora) Então JESUS faz uma prece... 
JESUS: “Pai Amado se for a tua vontade, envia aqui todos os companheiros que estiveram presentes no meu nascimento, humanos e animais, para testemunharem como foi aquela noite e lembrarem, ao meu amigo, a importância desta data para que ele não abandone sua missão”.

SEGUNDA PARTE:
Entram em cena José, Maria, os reis magos, o pastor, a ovelha, a vaca, o burro e o anjo e se colocam em torno de Jesus, reconstruindo o presépio. Cada um dá o seu testemunho:
MARIA - Meu amado filho, lembro como se fosse ontem... Tu, tão pequenino, nos meus braços. Como para qualquer mãe, foi o dia mais feliz da minha vida! Mas havia algo mais, havia uma luz, uma mensagem de esperança. E eu compreendi que tu vieste uma criança como as outras, para mostrar que as crianças têm o futuro pela frente e podem transformar o mundo!
JOSÉ - Sim, eras uma criança como todas as outras, pequeno e frágil. Mas te fizeste forte para suportar nossa vida, tão dura e simples, como tantas crianças que precisam trabalhar desde muito cedo para ajudar seus pais no sustento do lar. Há várias maneiras das crianças colaborarem com seus pais dentro de seus lares!
BURRO - Usam meu nome para xingar as pessoas. Mas de bobo eu não tenho nada! Quando te vi, naquela manjedoura, também compreendi que eras uma criança que irias inspirar todas as outras!
VACA - E eu acostumada a dar o meu leite para alimentar os humanos... Sabia que aquela criança alimentaria a alma de toda a humanidade!
PASTOR - Fui avisado pelo anjo que o salvador havia nascido. Quando vi o senhor tão pequeno na manjedoura, quase não acreditei que seria capaz de salvar alguma coisa! Como uma criancinha poderia ser o salvador? Mas era verdade! A sua mensagem salvou nossos corações!
OVELHA - E mostrou a todas as crianças que devem amar tudo o que é vivo, homens, animais, enfim, toda a natureza!
REI MELCHIOR - Viemos de tão longe para te trazer presentes, mas, os presenteados fomos nós!
REI BALTAZAR - Trouxemos ouro, incenso e mirra, mas nada disso tinha o valor daquilo que o menino iria nos ensinar!
REI GASPAR - Somos reis, reis magos! Mas toda a nossa nobreza não chegava aos pés da força daquela criança! A força do amor e da caridade!
ANJO - Mestre Jesus, o que queres que eu faça por ti?
JESUS - Meu amigo, quero que vá até aquelas crianças (e aponta as crianças que estão na sala) e peça a elas que doem todo o seu amor, todo o seu carinho, e ajudem o nosso amigo Noel a voltar a acreditar na humanidade. Precisamos dele como um símbolo de esperança para as crianças que ainda não me conhecem. Pergunte a elas se não gostariam de ajudar o Papai Noel a levar felicidade para outras crianças.
ANJO (pega o saco vazio das mãos do Papai Noel e dirige-se às crianças): - E então, queridas crianças? Vamos ajudar o Papai Noel a cumprir sua importante missão? Que tal cada um doar um presente a uma criança que nada ou tão pouquinho tem? Vamos ajudar?
anjo arrecada os brinquedos, colocando todos no saco de presentes Papai Noel. Entrega o saco para Jesus, sorrindo: - Aqui está!
JESUS (dirige-se para o Papai Noel e lhe entrega o saco de presentes): - Amigo Noel, a chave de tudo está nas crianças!

Os dois se abraçam. Fim. 

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

É o fim do mundo!


Dizem que o mundo vai acabar em 21 de dezembro do corrente. Tudo por conta dos maias, que faziam um calendário que vai somente até esta data.
Bom, eu escrevi um diário até o dia 04 de janeiro de 1992. Então como eu não quis mais escrever, o mundo acabou neste dia. O mundo acabou também quando o Pasquim deixou de ser escrito. O verdadeiro apocalipse aconteceu quando acabaram de ser escritos os capítulos da interminável novela Redenção.
O calendário dos maias vai somente até 21/12/2012, mas, olha que coisa curiosa, o que está em cima da minha mesa tem janeiro e fevereiro de 2013! Aliás, o nosso calendário tem uma Copa do Mundo agendada para 2014 e uma Olimpíada combinadíssima para 2016! Aqui, no Brasil!
Também acho suuuuuperinteressante que os maias, com toda a sua capacidade de prever o futuro, não conseguiram evitar a própria extinção. Será, então, que eram tão bons assim em fazer calendários?
E mais essa: o calendário maia, por acaso, corresponde ao calendário gregoriano, este que nós usamos?
Tenho sérias dúvidas sobre a seriedade deste fim do mundo. Cá com meus botões, penso que não vai acontecer.
O fim do mundo tem lá os seus encantos, é verdade. Pensa comigo: a gente morre, mas morremos todos juntos, não fica ninguém por aqui, chorando as saudades de quem partiu. Não teremos que pagar as 24 prestações da compra dos presentes de Natal, nem o IPTU 2013, nem o IPVA. O fim do mundo está marcado para o dia 21, sendo que até o dia 20 todos devem já ter recebido o décimo terceiro salário. Podemos todos comer e beber o décimo terceiro inteirinho, sem culpa, sem nos preocuparmos em botar um pouco na poupança, uma reserva para o ano que vem.
Mas, aqui entre nós, poderiam ter agendado para depois das festas, não é mesmo? Dois feriadões de quatro dias e o fim do mundo vai acontecer antes? Isso não tem o menor cabimento! Ainda bem que eu vou estar em férias. Detestaria trabalhar até as 18 horas, chegar em casa louca para tirar os sapatos e começarem as explosões e os gemidos, sem tempo nem para uma sonequinha.
Eu tenho certeza de que, se não frearmos nosso ritmo de consumo e degradação ambiental, o mundo se encaminhará para o fim inevitável. Mas não acontecerá em um dia. Acontecerá lentamente, uma tortura agoniante, dia após dia, mês após mês, ano após ano, cada vez pior, cada vez mais pobre em recursos, cada vez com mais fome, mais lixo, menos água. Mas isso somente se não frearmos nosso ritmo de consumo e degradação. Ainda há esperanças, se o homem acordar logo.
Quem sabe seja isso, afinal, o fim do mundo? O fim desta era de inconsequência e o início da era da maturidade. O fim de um tempo de destruição e o início de um tempo de construção de um mundo melhor. O fim deste mundo como o conhecemos e o começo de um outro, mais justo, mais humano, mais pacífico, mais afetuoso.
Quem sabe dia 21 de dezembro seja o início do tempo de despertar? Mas para despertar, será preciso marcar data? Podíamos começar agora mesmo.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Minha pizza favorita!

Desde a infância que eu e minha família somos clientes da Pizzaria Conca D'Oro. Eram nossos vizinhos, na esquina da Regente Feijó com a Quinze de Janeiro, em Canoas. No início, o pai comprava, todo mundo em casa comia, mas eu não. Achava esquisito aquele queijo derretido. Não gostava de pizza. Mas achava bacana as pessoas comerem pizza, então me determinei a experimentar e a gostar. Isso mesmo, eu decidi que gostaria de pizza.
A mussarela da Conca foi a primeira pizza que eu comi e confesso que, sendo uma chata de marca maior, de início comia só a massinha. Levou uns meses até me encorajar a provar a pizza com tudo o que ela tem por cima.
E aí, minha gente, nunca mais abandonei. Pizza é a minha comida preferida. Troco qualquer coisa, qualquer refeição, por uma pizza. Sou viciada, sou fissurada! 
E as da Conca D'Oro são as minhas favoritas! A pizza é fininha, tem uma massinha crocante e deliciosa. A cobertura é na medida, sem exageros. O molho é fantástico. A alho e óleo não tem igual, é a melhor que já experimentei. A quatro queijos é igualmente saborosa. A que leva o nome da casa, Conca D'Oro, de salamito e azeitonas, é diferente de todas as pizzas que já comi. 
Na minha adolescência, frequentava direto, com as amigas ou com a família. Volta e meia estávamos na Conca. Quando não íamos, pedíamos!
Vivemos alguns momentos inesquecíveis, como a aposta do meu irmão com o senhor Campello quando o Grêmio foi campeão da Libertadores em 1995. Se o Grêmio vencesse, meu irmão, colorado fanático, iria comer uma pizza vestindo a camisa tricolor. Ele saiu de casa escondido, para que ninguém percebesse. Mas o Fábio nos avisou da sua chegada. Fomos até lá e fizemos a maior algazarra na pizzaria. 
Depois de um tempo, mudou-se para outra região. Durante anos a Conca D'Oro esteve ausente. Achamos até que havia fechado. Depois descobrimos que seguia atendendo com tele-entrega, então voltamos a consumir.
Alguns anos atrás, retornaram para a Regente Feijó, o que eu festejei com toda a alegria! 
A família Campello, dona Celeste, Fábio, Fabiana e o resto da turma, tornaram-se amigos muito queridos. Ir à Conca não é apenas sair para comer uma pizza. É me sentir em casa, num ambiente simples e acolhedor.
Meu chá de fraldas, quando grávida, foi na Conca, assim como o chá de panela da minha irmã. Lá comemoramos nossos aniversários, nossas conquistas, ou simplesmente vamos porque não estamos a fim de lavar a louça. É sagrado, uma vez por semana, no mínimo, comemos a pizza da Conca D'Oro, em casa ou lá mesmo.
A minha filha adora! Faz amizade com as garçonetes, diverte-se brincando com elas. Faz de conta que está atendendo, veste um avental e vai "anotar os pedidos". 
Hoje os Campello comemoraram os 30 anos da Conca D'Oro. O Fábio e a dona Celeste ofereceram um coquetel e nossa família foi convidada. Para mim é uma felicidade festejar esta data! 
Parabenizo a família Campello e desejo muitos e muitos anos de sucesso!
A pizza da Conca é a minha pizza favorita. E o melhor de tudo: fica do ladinho da minha casa!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A Festa dos Dias


Neste dia 12 de outubro, mais do que o Dia da Criança e o dia de Nossa Senhora Aparecida, foi festejada a Família Dias. Mais que festejada: celebrada! Porque celebrar é diferente de festejar. O nome do evento era “Festa da Família Vargas Dias”, mas “festa” não traduz o que se viu por lá. Foi uma verdadeira celebração!
Sim, foi uma festa incrível, cheia de atrações, show de talentos, comida deliciosa, sorteio de brindes e uma dose imensa de emoção, saudades e alegria pelos reencontros. Estava estampado nos olhos de cada um, nas lágrimas que corriam daqueles olhos, furtivas por trás dos óculos, ou escancaradas em meio a abraços e sorrisos molhados de água e sal. Mas eu posso assegurar que foi além. Foi sim, uma celebração.
Celebração da família, celebração da união, celebração da força da consanguinidade, celebração da vida, tamanha a vibração, tamanha a energia concentrada naquele ambiente.
Os Dias são a família do meu marido. Mas há algo maior que isso. Os Dias são a família da minha filha e isto os torna mais do que especiais para mim. Eles, os Dias e a minha filha, estão unidos por laços indissolúveis, laços eternos, um elo que corre em suas veias e que, por consequência, me amarra inexoravelmente a eles.
Isto já seria muito, seria suficiente, para valer meu respeito e gratidão para todo o sempre. Porém ainda não é só isto. Há algo neles, em todos eles, que me encanta e me comove de uma forma profunda. É um jeito de ser, de sentir e se expressar, é uma maneira de olhar o mundo e a vida, é um brilho nos olhos e nos sorrisos, que faz querer ser parte.
Os Dias são a família do coração, a família que eu escolhi fazer parte. Não é família de sangue, é família por vontade!
Saímos com a promessa de uma nova festa dentro de um ou dois anos, que há de realizar-se, certamente, dado o sucesso da primeira e levando em conta a determinação desta gente. Sinto-me feliz por ter participado, por ter presenciado tudo isto, por me sentir integrada, por me sentir dentro. É uma honra estar nesta família!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Oração para o Negrinho do Pastoreio

‎"Negrinho do pastoreio
acendo esta vela pra ti
e peço que me devolva 
a querência que eu perdi.
Negrinho do pastoreio

traz a mim o meu rincão.
Eu te acendo esta velinha,
nela está meu coração.
Quero ver meu lindo pago
coloreado de pitanga,
quero ver a gauchinha
a brincar na água da sanga
e a trotear pelas coxilhas
respirando a liberdade
que eu perdi naquele dia
que me embretei na cidade"
Barbosa Lessa

Que neste 20 de setembro o Negrinho do Pastoreio ache para todos nós as nossas tradições esquecidas, deixadas de lado em nome da modernidade e do progresso, deturpadas pela invasão de outras culturas, pela ignorância e pelo desconhecimento de gente pseudocampeira que acha que inventou o campo e o cavalo.
Que neste 20 de setembro o Negrinho do Pastoreio ache para todos nós a nossa honra, a nossa coragem e o nosso brio, que nos devolva o orgulho de sermos gaúchos, de termos a melhor educação e a melhor saúde do país, obra de governantes determinados, combativos e honestos e que defendam as nossas necessidades.
Que neste 20 de setembro o Negrinho do Pastoreio ache para todos nós um motivo melhor para aparecermos no Jornal Nacional, que não sejam as baixas notas nas avaliações educacionais, nem a penúria das secas ou das enchentes, nem os escândalos envolvendo empresas públicas e autarquias do Estado.
Que neste 20 de setembro o Negrinho do Pastoreio ache para todos nós o direito de assistirmos jogos dos nossos times na TV aberta e sem favorecimento dos times dos outros estados.
Que neste 20 de setembro o Negrinho do Pastoreio que vive no coração de cada gaúcho possa achar a rédea deste Estado e assumir o comando novamente.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Os vasinhos da Manuela


Época de eleição, muita poluição visual e sonora nas cidades, tive uma grande satisfação ontem pela manhã. Estava indo para o trabalho e, ao chegar a Porto Alegre, nas proximidades do aeroporto, comecei a ver alguns vasos de cerâmica (quadradinhos, não muito grandes, deviam ter uns 30 centímetros de altura). Fiquei curiosa, imaginando do que se tratava. O primeiro que encontrei tinha uma haste de madeira com uma grande flor de papel na ponta, mas estava envergada para a frente, então não consegui saber o que estava escrito nela. Isso só aumentou a curiosidade, porque logo avistei outro vasinho, no canteiro central, passando o Laçador. Aí sim consegui ver que a flor era uma propaganda política, da candidata a prefeita de Porto Alegre, Manuela d’Ávila.
Não voto em Porto Alegre, não compartilho dos ideais políticos da Manuela, e também não votaria nela por um motivo deste tipo, mas achei a ideia dos vasinhos extremamente delicada e simpática. Ao invés de encher Porto Alegre com mais cartazes e placas horrorosos, que tanto enfeiam e dão um ar de bagunça e sujeira, Manuela presenteou as ruas com um pouco de suavidade e beleza, demonstrando algum carinho, alguma ternura, pela cidade que possivelmente a escolherá como prefeita.
Parabéns, Manuela, pela “mídia” escolhida para sua campanha.  É reconfortante saber que política ainda pode ser feita com criatividade e, por que não, um pouco de aconchego.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

...e na hora da nossa morte, amém.

É, ninguém sabe a sua hora. A morte é a única coisa certa da vida. Como disse Mário Quintana, a nossa “doce prometida”, com quem não sabemos quando serão as bodas, “Se hoje mesmo...ou no fim de longa vida”. Ela nos assusta, nos amedronta, nos incomoda e, por isso mesmo, nos desacomoda. Não fosse o saber que morreremos, o que faríamos de nossas vidas? Com que preguiça, com que lentidão, nós viveríamos? Evolução, progresso, inovação, para quê? Ela nos paralisa de medo e, contraditoriamente, é o que nos move.
Quando eu era criança e também na adolescência, não tinha medo da morte. Tinha pânico, pavor, um horror visceral. Eu não pronunciava a palavra, se estivesse escrita eu não encostava os dedos nela, não ia a velórios ou enterros, na Ave Maria eu suprimia a última frase. Que idiota! Como se isso pudesse evitar “a hora da nossa morte”! Amém!
Mas fui obrigada, pelas aulas de anatomia na faculdade, a começar a conviver com ela. E como não consigo sentir medo por muito tempo sem olhá-lo nos olhos e resolvê-lo, comecei a estuda-la, sob diversos aspectos. Biológico, espiritual, cultural etc.
Hoje me relaciono bem, tanto com o assunto quanto com a perspectiva da minha própria. Vai acontecer, afinal, embora não se saiba quando ou como ou onde. E diante da imprevisibilidade, me mantenho sempre de malas prontas. Não, eu não enlouqueci! Eu encaro diariamente a BR 116, trecho Canoas-Porto Alegre, um dos mais perigosos do país, tenho arritmias cardíacas violentas, tenho alergia a duas mil coisas, um histórico familiar de AVC, infarto e todas as doenças cardiovasculares imagináveis, 38 anos e uma glicemia que não baixa de 110 e uma teimosia crônica e falta de vergonha na cara de não parar de tomar café com açúcar e Coca Cola. Não tenho histórico de câncer na família, mas vá saber. Sem falar no risco de tiro, facada, prédio desabando, esses que todos correm a todo momento. A gente sai de casa e não sabe se volta!
Malas prontas são o beijo nos meus queridos quando os deixo, não ficar de mal com as pessoas que eu amo, pedir perdão a quem eu magoei e perdoar os que me magoaram (apesar de ser muito falastrona, eu guardo mágoa de muito pouca coisa na vida), usar sempre as frases mais importantes: eu te amo, tu és meu amigo, obrigada por tudo, eu te admiro muito.
Lembro de um amigo, o Carlos, durante a cerimônia de cremação da namorada assassinada em um assalto: “O que me consola é que eu não fiquei devendo nada. Eu disse ‘eu te amo’ todas as vezes que eu quis dizer e todas as vezes que ela quis ouvir. Não deixem de dizer que amam alguém. Não gasta! E nessa hora é só que consola!” Nunca esqueci disso. Aprendi a fazer minhas malas com muitas pessoas.
E enquanto a dita cuja não chega, a gente tenta viver da melhor maneira possível. Nem que seja para tirar um sarro dela: “Aí, véia, chegou tarde! Eu fiz tudo o que eu queria na vida!”