Transmitir
aquilo que pensamos, aquilo que sentimos, é uma das coisas mais difíceis que
existem. Já me preocupei muito com isso. Tinha pânico de não me fazer entender,
de falar alguma coisa e parecer absurda, de escrever um texto e não dizer nada
com nada. E tenho amigos que também padecem destas neuroses irremediáveis.
Nunca,
nunquinha mesmo, poderemos ter certeza de que os outros compreenderam o que a
gente quis dizer. Seja linguagem escrita, seja linguagem falada, seja linguagem
desenhada. A mensagem é composta dos 50% emitidos e outros 50% recebidos e o
receber depende apenas que quem recebe, por melhores que possam ser os recursos
de emissão. E isto é incontrolável! E se não pode ser controlado, não há nada
que possamos fazer. E se não podemos fazer nada, então não devemos queimar
nosso rico e escasso fosfato com isto!
Tenho
me preocupado com os 50% que me competem. Quando estou emitindo, tento fazer da
melhor maneira e, se possível, de uma forma que o receptor possa ao menos se
interessar por aquilo que estou emitindo (se ele vai entender, são outros
quinhentos, mas ao menos ele tem que querer me ouvir). Aí, pra tentar facilitar
um pouquinho o entendimento, eu tento ser o mais clara possível. Mas, ainda se
interessando e entendendo, isso não é garantia da boa vontade da reprodução
daquilo que eu estou orientando, informando, pedindo. Como me disse minha amiga
Marinês, todo mundo tem um momento de total autonomia, pela simples
impossibilidade de onipresença e onisciência. Ou seja, um momento em que não há
controle sobre o outro, não há fiscalização, e não importa muito o que foi
comunicado, mas o que cada um entendeu.
E
quando eu sou a receptora, ao menos me esforço para chegar perto do que estão
tentando emitir. Nem que seja pro coitado do emissor não ficar frustrado! Mas é
evidente que a mensagem vai chegar, vai se confrontar com as mensagens
anteriores que já estavam em mim, talvez fique, talvez se misture, talvez saia
do jeito que entrou, ou talvez nem passe perto. Os filtros da gente são instrumentos
poderosos e, de fato, cada um só ouve o que quer ouvir.
Assim
sendo, penso que eu faço a minha parte, tento ser uma boa emissora, uma
receptora razoável, e desencano.
Eu
tenho certeza plena e absoluta da minha impotência diante dos poderosos filtros
alheios. Então, tudo bem! Simples assim. A gente faz o que pode!
Evidente
que isso eu só adquiri após anos de tentativas de manipular o receptor, óbvio
que de maneira infrutífera!!! Hoje, o que eu escrevo, falo, ensino, discuto,
tem muito mais a ver com o que eu tenho vontade de expor, ou com o que me faz
bem expor, do que com aquilo que eu acredito que o receptor vai compreender ou
aceitar ou aprender.
Se
eu quero que compreendam? Evidente. Mas reconhecer e aceitar o limite dos meus
50% da comunicação facilita horrores minha vida e me ajuda a não esquentar a
cabeça. Faço os meus 50% e isto já é um montão!