quarta-feira, 29 de junho de 2011

Marinês

Nunca fui uma pessoa de ter muitos amigos. Conheço uma pá de gente! Gente de todos os tipos, de todos os credos, raças, classes sociais, gente de quem eu gosto de verdade, do fundo do coração, mas sou muito, mas muito, seletiva para chamar alguém de amigo. Às vezes, nas rodas de conversa, chamo de amigo um conhecido qualquer para não ter que dar maiores explicações de quem vem a ser esse fulano de quem estou falando. Mas amigo de verdade, amigo que merece o título, é uma categoria especial de pessoa, que tem que ter uma capacidade muito específica: fazer vibrar a minha alma.
Meus amigos reconhecem os diferentes tons da minha voz. Meus amigos sabem o que significa a testa franzida. Meus amigos entendem as piadas. Meus amigos riem e sofrem comigo, perto ou longe. Meus amigos admiram meu jeito tosco, simples e sem muitos rodeios, e também admiram quando percebo que o rodeio é necessário e faço dele um recurso para não ferir. Meus amigos me questionam porque sabem que podem. Meus amigos reconhecem o porto onde podem se ancorar. Meus amigos sabem que eu sou sua amiga.
Dizem que só conhecemos de verdade uma pessoa quando já comemos com ela um quilo de sal. Duplo sentido nesta frase. Pode se referir ao tempo que levamos para consumir um quilo de sal em condições normais. Se colocarmos na comida pequenas pitadas de sal, vão passar alguns meses até que se tenha consumido um quilo do mesmo.  Mas podemos pensar na dificuldade, na quase impossibilidade, que é engolir um quilo de sal puro. Podemos pensar na metáfora de duas pessoas sobrevivendo juntas às maiores adversidades, “comendo, juntas, um quilo de sal”, e no quanto isto pode fazer com que conheçam uma à outra.
Nos últimos tempos, a vida me presenteou com uma amizade inesperada. Não sei  quase nada da minha nova amiga, não sei para que time ela torce, qual sua cor favorita, qual a comida preferida, o tipo de filmes que gosta de assistir, uma desinformação total. Não somos exatamente pessoas próximas. Convivemos pouco, nos vemos pouco. Inúmeras vezes a conversa se dá através de e-mails (longos e-mails!) ou em intermináveis reuniões. Mas o tempo de convívio é sempre muito rico e acho que sei sobre ela o mais essencial.
Eu a conheço há mais de sete anos. Sempre tive muita admiração por ela. É uma pessoa dedicada, questionadora, batalhadora, animada e bem humorada. Por conta de várias atividades e alguns ideais em comum, nos aproximamos bastante nos últimos dois anos e pouco a pouco, essa admiração transformou-se em um profundo sentimento de amizade. Minha nova amiga faz minha alma vibrar.
É difícil dar a dimensão do que esta guria tem me ensinado. Estou aprendendo com ela a observar as pessoas, a compreender o que desejam, com o que sonham, o que as motiva. Tenho aprendido a respeitar as diferenças, a ver o outro lado, a contemporizar, a não ser a dona da verdade. Ela me ensina a não dar importância ao que não tem importância e dar valor ao que realmente vale alguma coisa, a olhar o mundo ao meu redor e perceber a riqueza que existe nele. Ela me mostra o meu próprio valor e me motiva a seguir construindo um ambiente de trabalho mais saudável, mesmo quando penso estar sozinha nesta empreitada.  Marinês é inspiradora.
Em julho do ano passado, minha amiga ganhou seu quilo de sal. Sem nunca esmorecer, sem desistir, sem desanimar, mesmo diante da mais adversa das situações, ela segue dando exemplo de coragem e determinação.
Ninguém pode prever o futuro. Ninguém pode saber o que lhe é reservado. Só temos um punhado de lembranças... e o presente. Hoje, sou grata à vida por esta nova amizade. Hoje, me sinto feliz pela oportunidade de compartilhar meu caminho com uma pessoa tão iluminada.