domingo, 3 de novembro de 2013

10 anos de Conceição

Hoje estou completando 10 anos de Hospital Nossa Senhora da Conceição.
Foram 10 anos de muito aprendizado, muita luta, muita construção, muita produção.
No dia 03 de novembro de 2003 eu deixava para trás a docência acadêmica e toda uma rotina flexível, arejada, confortável de certa forma, para ingressar na rotina hospitalar, com todas as suas duras implicações. Foi um choque! Tentei trazer comigo ao máximo a leveza e a flexibilidade, mas isto nem sempre cabe na farmácia hospitalar. O fato é que o hospital tem outros encantos, outras possibilidades, basta ter os olhos abertos.
No final das contas, "rotina" foi o que eu menos tive ao longo destes anos. Cada dia é novo e surpreendente (para o bem e para o mal!) e tudo muda de uma hora para outra. Para esta criatura avessa à mesmice que eu sou, é a maneira ideal de trabalhar!
Durante estes 10 anos, fiz algumas coisas de que muito me orgulho e que não posso deixar passar em branco.
O projeto de reestruturação da farmácia hospitalar do GHC foi escrito por mim, compilado das propostas dos colegas dos 4 hospitais do grupo. O conteúdo é compartilhado, mas o texto, a redação, são meus. Assim como a apresentação formal aos representantes do Ministério da Saúde e à diretoria do GHC daquela época. Foi em 2005. 
Boas ou ruins, o projeto das estações de dispensação é meu. Eu sentei com o papel, o lápis e a régua nas mãos e tracei linha a linha o desenho, conforme as necessidades que me foram passadas.
Ajudei a estruturar o ingresso da farmácia na ênfase Saúde da Família e Comunidade, da Residência Integrada em Saúde (lembra Luciane Kopittke?), lá no seu início.
E escrevi o projeto que resultou na inserção da farmácia na ênfase Atenção ao Paciente Crítico da RIS.
Fui preceptora da RIS por 2 anos e meio, na ênfase Onco-Hematologia (saudades de trabalhar com as amigas Tessa GuimarãesCristina Nunes de BarrosIsabel HacknerRenata Lorenz e Sandra von Hoonholtz).
Organizei o livro Conversando Sobre Erros de Dispensação, escrito em conjunto com os trabalhadores da farmácia, propondo um jeito diferente de fazer educação em saúde.
E escrevi o projeto que hoje resultou na abertura da farmácia da emergência do Hospital Conceição. Escrevi em 2005 e reescrevi em 2012. E hoje ela está funcionando. Minha mais querida "filha" dentro do HNSC!!!!!! Não é Lais Oliveira?
Mas de tudo, o que eu fiz de melhor e mais importante dentro do HNSC foram amigos. Tanta gente, tanta gente, gente que já foi embora, gente que ainda está por lá, gente com quem eu convivo diariamente e outros que quase não encontro mais. Amigos queridos, que me oportunizaram mais do que trabalhar no HNSC, mas VIVER o HNSC.
Mari HorszczarukAna Catarina RomanoAna Paula Porsch, Sharon Manssur Kirchner, Raquel Denise Petry, Priscila Aguirres, Mônica Padilha, Carine Morschel, meus queridos residentes Paula Stoll e Diego Würst, Lisia Hausen Gabe, minha queridíssima Irene Souza, Thaís Canella, Letícia Alves, Rafaela Alvariz, João Madruga e tantas outras pessoas. A todos eu agradeço a amizade, o carinho, o companheirismo! Adoro vocês!
Há muito chão pela frente e muitas vezes me questiono se ainda estou disposta a trilhar este caminho. Sejam quais forem as decisões daqui para a frente, não posso virar as costas para 10 anos de história de vida, de amizades, de construções e muito trabalho. O HNSC mora em mim, sempre vai morar.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O terceiro parto


Nós, mulheres, quando engravidamos, temos sempre uma pontinha de preocupação com a dor do parto.
O parto natural, mais óbvio, mas que hoje conta com recursos como a analgesia. Ou mesmo uma cesariana, em que há a dor inerente a um procedimento cirúrgico.
Mas não contamos com as dores dos partos que se seguirão ao longo das nossas vidas.
Não sei se é daí que vem a palavra, mas todo parto é uma despedida, um rompimento, um partir.
Ao nascer, a criança parte do corpo da mãe para a sua própria vida. A expulsão do útero e o rompimento do cordão umbilical determinam que agora são dois corpos e não mais um só. E esta é só a primeira despedida.
O fim da licença maternidade, o retorno ao trabalho, o primeiro dentinho, o ingresso na escolinha, o fim da amamentação, aprender a ler, dominar o computador, e tantos outros momentos de consolidação da autonomia da criança, representam pequenas despedidas, sinais do crescimento, da evolução e da inevitável marcha do tempo.
Cada uma destas passagens tem uma maior ou menor importância para cada mãe e, para mim, cada uma delas foi bastante significativa. Mas além do nascimento da minha filha, meu segundo grande parto foi deixar de amamentá-la no peito. Tive muitas dificuldades com a amamentação, que era algo que eu desejava muito e me empenhei demais para que fosse possível. Meu segundo parto aconteceu no dia em que ela, por conta de uma infecção respiratória, deixou de mamar no peito e ficou só com a mamadeira, muito mais fácil de sugar. Ela tinha apenas 5 meses e foi muito sofrido para mim.
Agora ela está com 6 anos, e eu me preparo para viver o meu terceiro parto.
Eu e minha filha somos fisicamente muito próximas. Sempre fiz questão do contato físico, muitos abraços, beijos e carinhos. Acredito no poder do toque na relação entre mãe e filho, no estreitamento dos laços, na segurança e no conforto que ele proporciona. Sempre gostei de carregar minha filha no colo, não com a intenção de poupá-la de caminhar, mas pelo conforto que um colinho representa. E ela, até o momento, não se constrangeu em me pedir colo. Estende os bracinhos e "mamãe, me dá colinho?".
Mas está acabando. Ela está crescendo e já quase não consigo sustentar o seu peso. Minha filha é esguia, alta e magra, mas evidentemente não terá este tamanho para sempre. Para erguê-la, é preciso toda uma manobra. Seguro embaixo de suas axilas, nos posicionamos com as pernas um pouco flexionadas e eu ordeno: "Pula!". No impulso gerado para cima, puxo-a para o meu colo e ela enlaça minha cintura com as perninhas. Assim seu peso é melhor distribuído e eu aguento uns dois ou três minutos, no máximo. Estou por parir uma criança crescida, uma mocinha, com peso e altura incompatíveis com as minhas forças. Sentirei uma saudade imensa desta menininha que ela ainda será por pouco tempo. Colinho, em breve, só com a mamãe sentada. Mas este colo estará sempre disponível para acolhê-la quando quiser ou precisar.