domingo, 18 de março de 2012

No mês da mulher

Um dia, quando eu ainda não queria ter filhos (e não queria mesmo, achava que  não iria querer nunca), uma colega de trabalho que eu admirava e adorava, farmacêutica, doutora em farmacologia, professora universitária, solteira, independente, windsurfista, enóloga, festeira, siliconada, platinada e linda de morrer (ou seja, fez tudo o que queria da vida), me disse:
"O que? Tu não queres ser mãe? Deves ter algum tipo de doença! Acho que tu precisas te tratar!"
Tão maravilhosa e tão preconceituosa...
Penso eu que deveríamos ter o direito de sermos o que quisermos e não o que nos é imposto. Mas me entristece mais quando a imposição parte de outras mulheres. Eu não sou uma feminista de carteirinha, nem sem carteirinha. Não acho que as mulheres têm que ser mais que os homens, melhores que os homens, superiores aos homens. Não precisamos necessariamente viver na Ilha Paraíso, só as amazonas sob o governo da rainha Hipólita, mãe da Mulher Maravilha. Acredito mais na igualdade de direitos, deveres, compromissos, acessos, etc, e na total e irrestrita desigualdade de personalidades, sonhos, desejos, modo de ser e agir. Infelizmente, ainda não nos tornamos iguais no que deveríamos ser e estamos cada vez mais uniformes no que deveria ser individual. Mulheres de terno e gravata, homens de unhas pintadas! Cada um usa o que quer, mas eu traduzo essa necessidade de se igualar fisicamente ao outro sexo como um desejo reprimido e ainda não atingido de termos os mesmos direitos, a mulher de ocupar um espaço que também pode ser seu, o homem de ser mais sensível e humano.
Como eu disse antes, me entristece mais quando a imposição parte de outras mulheres. Que um homem ache que é obrigação da mulher ser mãe, amante, bunduda e sem barriga e ainda não gastar uma nota no shopping, vá lá, eles não estão na nossa pele, não vivem a nossa vida. Mas outra mulher me falar uma barbaridade dessas, é o fim da várzea!
O caminho da igualdade é longo e está sob a responsabilidade do DNER! Há muitos buracos para passarmos, há trechos sem sinalização, os reparos, quando são feitos, duram pouco, o asfalto é de péssima qualidade, os motoristas (homens e mulheres!) desrespeitam as leis do trânsito, parte da frota é arcaica, os caminhões arrastam toneladas muito acima do que a estrada é capaz de suportar. Mas ainda assim a gente precisa seguir trafegando, ou não chegaremos onde queremos.

O significado de uma cor

Não gosto de amarelo. Não, não é que eu não goste, acho que não combina comigo. Não uso nada amarelo porque me deixa pálida. Mas até que eu gosto das flores amarelas, a rosa amarela é lindíssima, o ipê amarelo é maravilhoso. Mas acho estranhos os carros amarelos, mesmo os esportivos. E o amarelo nas casas, não é em todas e também não em qualquer tonalidade que fica legal.
Quando contei para minha filha que construiríamos uma casa nova para morarmos, a primeira coisa que ela disse foi: "Oba! Uma casa amarela!"
Amarela???
Eu tinha em mente deixar minha filha participar de alguma forma na construção da nova morada. Como ela tem apenas 5 anos e é impossível nesta idade poder opinar sobre estrutura, distribuição da área física, materiais, pensei que ela poderia participar sugerindo as cores. A do seu próprio quarto, evidentemente, e também a pintura externa.
Antecipando esta minha intenção e antes que eu perguntasse, ela me sai com aquela frase: "Oba! Uma casa amarela!"
Nunca pensei nesta opção. Jamais sequer cogitei a possibilidade de pintar minha casa de amarelo. Pensava num verdinho, um azul claro, cores frias, tons de água, combinando com a pisciana que eu sou. Não. Amarelo estava fora de questão.
Mas o entusiasmo dela, tão iluminado quanto a própria cor, acabou me contagiando. Comecei a visualizar mentalmente aquela fachada, com as aberturas brancas, um jardinzinho, e fui acostumando com a ideia.
No dia em que fomos escolher as tintas, ela foi junto. Mostrei algumas tonalidades no catálogo e ficamos entre maracujá, canário e acácia mimosa. Já havia olhado na Internet, no site do fabricante, e visto algumas coisas previamente, então fechei um pouco o leque de opções e apontei para ela aquelas tonalidades que achei mais interessantes. Acácia mimosa é o nome da cor escolhida. Um amarelo claro, mas extremamente luminoso, a cor da florzinha da acácia mimosa, de fato.
Esta semana, finalmente, foi feita a pintura externa das paredes. Na primeira passada dos rolos, um enorme susto: o amarelo inicial, com a tinta ainda fresca, é cor de manga madura, quase passada! Meu Deus, não foi nisso que pensamos! Mas realmente foi só um susto. Assim que a tinta seca, assume a cor esperada, e fica linda.
Vou morar em uma casa amarela, quem diria!
O amarelo que significa alegria, mas que para mim significou também a consideração pela mais jovem moradora da casa, o respeito por seu direito a participar na construção daquele que será o seu lar.
O quarto? Ah, sim, é lilás!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Construindo

Ando ausente, mas a causa é muito justa: estou construindo minha casa nova. Isto toma um tempo monstruoso!
Ao invés de textos, escrevo recibos, listas, orçamentos.
Minha cabeça anda povoada de cimento, azulejos, tintas, manta asfáltica e outras coisas do gênero. Não sobra um cantinho para mais nada.
A criatividade está toda investida na combinação do piso com o azulejo, da janela com a parede, das cores internas, das cores externas...
Mas eu volto. Está no fim.
Graças a Deus!

Ciúmes

Nunca fui uma pessoa ciumenta dentro padrões comumente reconhecidos como de um "ciumento". Nunca reclamei daquelas olhadinhas para as gostosas na rua, nem dos elogios intermináveis à Luma de Oliveira ou à Ana Paula Arósio ou qualquer outra beldade. Nunca reclamei das chegadas tarde da noite porque ficou trabalhando. Nem impedi qualquer jogo de futebol com os amigos. Nada de chiliques, cenas, escândalos. Meus ciúmes não passavam de algumas conversas dando conta do que eu faria se um dia descobrise que fui traída.
Aí sim, passado o pressuposto de que todos são inocentes até prova em contrário e assinado o atestado de infidelidade, as maiores atrocidades seriam cometidas contra aquele safado, sem vergonha, filho de uma boa senhora!
Dar o troco? Nããããããoooo! Muito pouco! Coisas bem piores, do tipo pegar o sujeito dormindo e acordá-lo a marteladas nos joelhos, cotovelos e, obviamente, na área de lazer! Aliás, a área de lazer poderia perfeitamente ser cortada fora, sem dó nem piedade! Rasgar todas as roupas do cidadão, destruir seus brinquedinhos favoritos, talvez o Playstation, o notebook ou então, olha que idéia incrível, esfaquear a bola de futebol. Evidentemente eu não iria olhar para a cara do sujeito nunca mais. "Desaparece!!!" seria a última palavra minha que ele iria ouvir. E eu fazia questão de deixar bem claro tudo o que ocorreria no caso de uma pulada de cerca.
Ufa! Fiquei exausta só de pensar! Embora não perdesse meu tempo sentindo ciúmes e fazendo cobranças, gastava uma energia louca planejando vinganças para uma eventualidade: no caso de uma traição, precisava estar preparada!
Um dia, conversando com uma amiga que havia sido "presenteada" pelo marido, mudei radicalmente a minha forma de pensar sobre este assunto. "A gente nunca sabe como vai reagir a uma coisa dessas. Eu dizia que ia fazer  e acontecer e, quando me deparei com a situação, não tive coragem de fazer nada, nem vontade. Apenas perdoei. Fico me culpando por não ter cumprido todas as minhas 'promessas', por ter agido como uma fraca, mas fazer o que, eu gosto daquela criatura.". Essas palavras da minha amiga me ensinaram a coisa mais importante sobre os relacionamentos: a imprevisibilidade.
Não podemos prever coisa alguma. Não sabemos se seremos traídos ou não, não sabemos como iremos encarar a situação, não sabemos como iremos reagir. A traição por si só não é uma garantia de que deixaremos de amar imediatamente o traidor. Talvez nos decepcionemos, talvez já estivéssemos esperando que isso acontecesse. Mas não há como saber como iremos nos sentir.
Ter esta consciência é profundamente libertador. Devolve nosso tempo, devolve nossa energia e nos deixa livres para, se um dia nos depararmos com esta situação, tomarmos a decisão que o momento exigir, sem culpas, sem cobranças, sem contradições.