sexta-feira, 20 de julho de 2012

Para os meus amigos

Quando eu era criança, assisti no cinema um filme com o Bud Spencer e o Terence Hill, chamado "Quem encontra um amigo, encontra um tesouro".
O filme era a história de um velejador (Bud Spencer) que está em busca de um tesouro em um navio naufragado. Antes de partir, um trambiqueiro (Terence Hill) perseguido pelas pessoas que enganou, se esconde no barco e acaba indo junto na viagem. No início, o Bud fica furioso com a presença do intruso. Mas para não atrasar a viagem e como não dava para simplesmente jogá-lo no mar, acaba aceitando o inesperado companheiro.
Aí os dois vivem as maiores aventuras e acabam encontrando o tal tesouro.
Evidentemente se tornaram grandes amigos, o que explica em parte o nome do filme. Mas a localização do tesouro, por outro lado, só foi possível pela ajuda que o Terence deu para o Bud, o que dá um duplo sentido ao título.
Então, para encontrar um tesouro, seria necessário ter junto um amigo.
O Bud se achava muito auto-suficiente, tanto que a intenção inicial era partir sozinho em busca da fortuna, o que obviamente não seria viável, como se percebe no decorrer do filme. Além disso, pela má fama do colega, tinha medo que o trambiqueiro roubasse seu tesouro, o que acaba não acontecendo, pois a amizade entre eles acaba sendo maior que a sem-vergonhice do Terence.
Adoro filmes sobre amizades verdadeiras e sólidas, construídas no dia a dia, quando o apoio mútuo, a confiança e a compreensão fazem superar todas as dificuldades. Sociedade dos Poetas Mortos, Amigas para Sempre, Flores de Aço, Up, O Último Samurai, são alguns exemplos.
Mas, mais do que isto, prezo muito as minhas amizades, verdadeiras e sólidas, construídas no dia a dia, quando o apoio mútuo, a confiança e a compreensão fazem superar todas as dificuldades e nos levam a encontrar incríveis tesouros ao longo da jornada.
Para os meus amigos, meus grandes e ricos tesouros, todo o meu carinho neste dia do amigo!

sábado, 7 de julho de 2012

Sementeira


A sementeira é a terra semeada, o viveiro de plantas, a origem, a fonte, a causa.
Minha vida é a sementeira. Eu, sempre a lançar à terra sementes para germinar.
Preparar o solo. Arado, ancinho, enxada. Minha dedicação é o adubo. Abrir os sulcos, depositar as sementes. Depois regar e ir embora. A colheita é sempre para outra pessoa.
Isto não é um problema. A eterna necessidade de movimento faz com que eu não consiga me manter estática por muito tempo. Preciso andar. E vou deixando os rastros, os canteiros semeados. Começo, talvez meio, nunca o fim.
Já deixei um sem fim de obras inacabadas. Inconstância sim, concordo. Sou volúvel!
Mas com este sempre começar, já  descobri em mim habilidades que não conhecia, redescobri algumas que estavam esquecidas, derrubei velhas verdades, encontrei novas, revigorei o pensamento, fiz muitos amigos e me senti honrada por participar do nascimento de muitas coisas incríveis.
Vivo a emoção de ver a semente germinar e as flores e frutos nas mãos de outras pessoas, porque eu sei, no meu coração, que se eu não tivesse plantado, elas não teriam colhido. Não preciso destes créditos, no meu íntimo eu sou a mãe.
Desapego fácil, deixo para trás sem sofrimentos.
Só fico triste ao ver boas sementes perecerem em mãos pouco cuidadosas. Às vezes escolho solos inférteis, onde nada cresce. Ao invés de árvores frondosas, galhos secos e inertes.
Minha alegria é ver os frutos que um dia cultivei povoando as mesas, e as flores colorindo os vasos, ainda que por mãos alheias.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Traduções

“Mamãe, hoje eu se descomportei na escola e fui para o pensamento!”
“Isso é bom, mamãe? Deixa eu esmerentar?”
“Não dá pra ouvir nada! Avolenta o volume!”
“Que lindo! Isso é um bestáculo!”
Minha filha tem 5 anos e faz um tremendo esforço para falar corretamente, mas ainda fala as pérolas acima. Faz parte do papel de mãe, entre outras coisas, a tradução dos filhos.
Acho as conversas infantis a coisa mais engraçada que existe! Os pequeninos aprendem por imitação. Nos observam e repetem aquilo que falamos. Aos poucos, vão associando as palavras aos seus significados, vão entendendo que cada palavra simboliza um objeto, uma ação, uma qualidade, vão conectando umas às outras e formando pequenas frases.
A linguagem humana é, para mim, a mais fantástica obra da Criação. A capacidade de expressar detalhadamente o pensamento, de explicar aquilo que se passa em nossa mente, de relatar nossas vivências, de contar a nossa história, de criar nomenclaturas é, talvez, a mais incrível habilidade do ser humano. Mas o longo caminho para chegar até a linguagem plenamente desenvolvida é recheado de momentos gracinha, quando a língua enrolada e a pouca destreza nos movimentos bucais geram palavrinhas divertidas, frases sem pé nem cabeça, que nos enternecem e nos deixam cheios de orgulho dos nossos pimpolhos.
Minha pequena começou a balbuciar coisas “compreensíveis” por volta dos 7 ou 8 meses. O papai, ela chamava de papai, mas eu, Maria, ela chamava de “Ia”. Demorou um pouco até eu me dar conta do significado, mas fui percebendo que ela falava “Ia” e apontava para mim. Na sequência, ao longo dos meses, a vovó era “bobó”, tomate era “papati”, Backyardigans (esse era bem difícil!) era “Cacáqui” (gostei mais da versão dela!), pepino era “pipibo” e pizza era “pipa” (graças a Deus, podia ser pior!).
Tem pais e mães que se desdobram para fazer com que os filhos falem corretamente. Se o pitoco fala “áua”, não alcançam a mamadeira até que saia “água”. Eu corrijo a minha menina, mas acho isso um exagero, acaba gerando uma angústia desnecessária. Com o tempo, eles vão aprender a forma correta de cada palavra. E, além do mais, a criatividade infantil é algo sem limites. Dia desses, tivemos esta conversa:
“Isso é bom, mamãe? Deixa eu esmerentar?”
“Ex-pe-ri-men-tar!”
“Es-me-ren-tar!”
“Experimentar!”
“Tá, mãe, deixa eu provar, então!”
Fui para o pensamento.