quarta-feira, 4 de julho de 2012

Traduções

“Mamãe, hoje eu se descomportei na escola e fui para o pensamento!”
“Isso é bom, mamãe? Deixa eu esmerentar?”
“Não dá pra ouvir nada! Avolenta o volume!”
“Que lindo! Isso é um bestáculo!”
Minha filha tem 5 anos e faz um tremendo esforço para falar corretamente, mas ainda fala as pérolas acima. Faz parte do papel de mãe, entre outras coisas, a tradução dos filhos.
Acho as conversas infantis a coisa mais engraçada que existe! Os pequeninos aprendem por imitação. Nos observam e repetem aquilo que falamos. Aos poucos, vão associando as palavras aos seus significados, vão entendendo que cada palavra simboliza um objeto, uma ação, uma qualidade, vão conectando umas às outras e formando pequenas frases.
A linguagem humana é, para mim, a mais fantástica obra da Criação. A capacidade de expressar detalhadamente o pensamento, de explicar aquilo que se passa em nossa mente, de relatar nossas vivências, de contar a nossa história, de criar nomenclaturas é, talvez, a mais incrível habilidade do ser humano. Mas o longo caminho para chegar até a linguagem plenamente desenvolvida é recheado de momentos gracinha, quando a língua enrolada e a pouca destreza nos movimentos bucais geram palavrinhas divertidas, frases sem pé nem cabeça, que nos enternecem e nos deixam cheios de orgulho dos nossos pimpolhos.
Minha pequena começou a balbuciar coisas “compreensíveis” por volta dos 7 ou 8 meses. O papai, ela chamava de papai, mas eu, Maria, ela chamava de “Ia”. Demorou um pouco até eu me dar conta do significado, mas fui percebendo que ela falava “Ia” e apontava para mim. Na sequência, ao longo dos meses, a vovó era “bobó”, tomate era “papati”, Backyardigans (esse era bem difícil!) era “Cacáqui” (gostei mais da versão dela!), pepino era “pipibo” e pizza era “pipa” (graças a Deus, podia ser pior!).
Tem pais e mães que se desdobram para fazer com que os filhos falem corretamente. Se o pitoco fala “áua”, não alcançam a mamadeira até que saia “água”. Eu corrijo a minha menina, mas acho isso um exagero, acaba gerando uma angústia desnecessária. Com o tempo, eles vão aprender a forma correta de cada palavra. E, além do mais, a criatividade infantil é algo sem limites. Dia desses, tivemos esta conversa:
“Isso é bom, mamãe? Deixa eu esmerentar?”
“Ex-pe-ri-men-tar!”
“Es-me-ren-tar!”
“Experimentar!”
“Tá, mãe, deixa eu provar, então!”
Fui para o pensamento.

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