“Mamãe, hoje eu se descomportei na
escola e fui para o pensamento!”
“Isso é bom, mamãe? Deixa eu
esmerentar?”
“Não dá pra ouvir nada! Avolenta o
volume!”
“Que lindo! Isso é um
bestáculo!”
Minha filha tem 5 anos e faz um tremendo
esforço para falar corretamente, mas ainda fala as pérolas acima. Faz parte do
papel de mãe, entre outras coisas, a tradução dos filhos.
Acho as conversas infantis a coisa mais
engraçada que existe! Os pequeninos aprendem por imitação. Nos observam e
repetem aquilo que falamos. Aos poucos, vão associando as palavras aos seus
significados, vão entendendo que cada palavra simboliza um objeto, uma ação, uma
qualidade, vão conectando umas às outras e formando pequenas frases.
A linguagem humana é, para mim, a mais
fantástica obra da Criação. A capacidade de expressar detalhadamente o
pensamento, de explicar aquilo que se passa em nossa mente, de relatar nossas
vivências, de contar a nossa história, de criar nomenclaturas é, talvez, a mais
incrível habilidade do ser humano. Mas o longo caminho para chegar até a
linguagem plenamente desenvolvida é recheado de momentos gracinha, quando a
língua enrolada e a pouca destreza nos movimentos bucais geram palavrinhas
divertidas, frases sem pé nem cabeça, que nos enternecem e nos deixam cheios de
orgulho dos nossos pimpolhos.
Minha pequena começou a balbuciar coisas
“compreensíveis” por volta dos 7 ou 8 meses. O papai, ela chamava de papai, mas
eu, Maria, ela chamava de “Ia”. Demorou um pouco até eu me dar conta do
significado, mas fui percebendo que ela falava “Ia” e apontava para mim. Na
sequência, ao longo dos meses, a vovó era “bobó”, tomate era “papati”,
Backyardigans (esse era bem difícil!) era “Cacáqui” (gostei mais da versão
dela!), pepino era “pipibo” e pizza era “pipa” (graças a Deus, podia ser
pior!).
Tem pais e mães que se desdobram para
fazer com que os filhos falem corretamente. Se o pitoco fala “áua”, não alcançam
a mamadeira até que saia “água”. Eu corrijo a minha menina, mas acho isso um
exagero, acaba gerando uma angústia desnecessária. Com o tempo, eles vão
aprender a forma correta de cada palavra. E, além do mais, a criatividade
infantil é algo sem limites. Dia desses, tivemos esta conversa:
“Isso é bom, mamãe? Deixa eu
esmerentar?”
“Ex-pe-ri-men-tar!”
“Es-me-ren-tar!”
“Experimentar!”
“Tá, mãe, deixa eu provar,
então!”
Fui para o pensamento.
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