quarta-feira, 8 de maio de 2013

O terceiro parto


Nós, mulheres, quando engravidamos, temos sempre uma pontinha de preocupação com a dor do parto.
O parto natural, mais óbvio, mas que hoje conta com recursos como a analgesia. Ou mesmo uma cesariana, em que há a dor inerente a um procedimento cirúrgico.
Mas não contamos com as dores dos partos que se seguirão ao longo das nossas vidas.
Não sei se é daí que vem a palavra, mas todo parto é uma despedida, um rompimento, um partir.
Ao nascer, a criança parte do corpo da mãe para a sua própria vida. A expulsão do útero e o rompimento do cordão umbilical determinam que agora são dois corpos e não mais um só. E esta é só a primeira despedida.
O fim da licença maternidade, o retorno ao trabalho, o primeiro dentinho, o ingresso na escolinha, o fim da amamentação, aprender a ler, dominar o computador, e tantos outros momentos de consolidação da autonomia da criança, representam pequenas despedidas, sinais do crescimento, da evolução e da inevitável marcha do tempo.
Cada uma destas passagens tem uma maior ou menor importância para cada mãe e, para mim, cada uma delas foi bastante significativa. Mas além do nascimento da minha filha, meu segundo grande parto foi deixar de amamentá-la no peito. Tive muitas dificuldades com a amamentação, que era algo que eu desejava muito e me empenhei demais para que fosse possível. Meu segundo parto aconteceu no dia em que ela, por conta de uma infecção respiratória, deixou de mamar no peito e ficou só com a mamadeira, muito mais fácil de sugar. Ela tinha apenas 5 meses e foi muito sofrido para mim.
Agora ela está com 6 anos, e eu me preparo para viver o meu terceiro parto.
Eu e minha filha somos fisicamente muito próximas. Sempre fiz questão do contato físico, muitos abraços, beijos e carinhos. Acredito no poder do toque na relação entre mãe e filho, no estreitamento dos laços, na segurança e no conforto que ele proporciona. Sempre gostei de carregar minha filha no colo, não com a intenção de poupá-la de caminhar, mas pelo conforto que um colinho representa. E ela, até o momento, não se constrangeu em me pedir colo. Estende os bracinhos e "mamãe, me dá colinho?".
Mas está acabando. Ela está crescendo e já quase não consigo sustentar o seu peso. Minha filha é esguia, alta e magra, mas evidentemente não terá este tamanho para sempre. Para erguê-la, é preciso toda uma manobra. Seguro embaixo de suas axilas, nos posicionamos com as pernas um pouco flexionadas e eu ordeno: "Pula!". No impulso gerado para cima, puxo-a para o meu colo e ela enlaça minha cintura com as perninhas. Assim seu peso é melhor distribuído e eu aguento uns dois ou três minutos, no máximo. Estou por parir uma criança crescida, uma mocinha, com peso e altura incompatíveis com as minhas forças. Sentirei uma saudade imensa desta menininha que ela ainda será por pouco tempo. Colinho, em breve, só com a mamãe sentada. Mas este colo estará sempre disponível para acolhê-la quando quiser ou precisar.