domingo, 16 de fevereiro de 2014

O Bonsai

Sempre achei muito bonita a arte do bonsai. Há alguns destes seres que são verdadeiras esculturas vivas, moldados por mãos pacientes e habilidosas.
Tempos atrás, ganhei de uma amiga uma miniatura de pitangueira. Ainda jovenzinha, idade denunciada pelo caule pouco desenvolvido, a pequenina ia muito bem em seu vasinho. Caprichei nos cuidados: podas de galhos e raízes, regas adequadas, muito carinho. Isso durou algum tempo, mas em detrimento de todos os meus esforços, minha pitangueira-bonsai não viceja. Ela está ali, cabisbaixa, com suas folhinhas pendidas, como pendem os braços pesados de quem desistiu da vida.
E eis que me ocorreu uma ideia, uma epifania. Ela não foi feita para isso.
Criar árvores que deveriam ser enormes em espaços tão restritos é como criar pássaros em gaiolas: não foram feitos para isso.
Quem de nós, em algum momento da vida, não sentiu vontade de se expandir, de ocupar um espaço bem maior, num espreguiçar longilíneo e amplo, sem restrições, sem limites?
Estou me sentindo bem assim neste exato momento. Sinto minhas pernas aprisionadas num pequeno vaso que me impede de crescer e ser tudo aquilo que eu nasci para ser. Como um pássaro na gaiola, estou cantando para o nada, cantando para ninguém, ou ao menos cantando para ninguém que realmente tenha importância.
Sou o bonsai que não tem mais para onde crescer, que vai se moldando à vontade alheia, sem poder ser aquilo que ele é de verdade: uma árvore.
Não tenho por hábito o comodismo e, diferente de um bonsai ou de um pobre pássaro engaiolado, posso agir sobre o meio e mudá-lo. Posso agir sobre mim e mudar-me.
Mas enquanto as mudanças que encaminho para a minha vida não se concretizam, vou libertar minha pitangueirinha. Será plantada em um solo amplo e fértil, onde suas raízes possam ir até onde quiserem, onde sua copa não será mais podada, onde será aquilo que verdadeiramente nasceu para ser: uma grande e linda pitangueira, vestida de noiva no meio do inverno, coberta de pitangas coloridas no final da primavera, vistosa e majestosa como cabe a uma árvore.
Minha amiga haverá de compreender que o presente que me deu merece mais de mim do que água e tesoura.

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