quinta-feira, 9 de agosto de 2012

...e na hora da nossa morte, amém.

É, ninguém sabe a sua hora. A morte é a única coisa certa da vida. Como disse Mário Quintana, a nossa “doce prometida”, com quem não sabemos quando serão as bodas, “Se hoje mesmo...ou no fim de longa vida”. Ela nos assusta, nos amedronta, nos incomoda e, por isso mesmo, nos desacomoda. Não fosse o saber que morreremos, o que faríamos de nossas vidas? Com que preguiça, com que lentidão, nós viveríamos? Evolução, progresso, inovação, para quê? Ela nos paralisa de medo e, contraditoriamente, é o que nos move.
Quando eu era criança e também na adolescência, não tinha medo da morte. Tinha pânico, pavor, um horror visceral. Eu não pronunciava a palavra, se estivesse escrita eu não encostava os dedos nela, não ia a velórios ou enterros, na Ave Maria eu suprimia a última frase. Que idiota! Como se isso pudesse evitar “a hora da nossa morte”! Amém!
Mas fui obrigada, pelas aulas de anatomia na faculdade, a começar a conviver com ela. E como não consigo sentir medo por muito tempo sem olhá-lo nos olhos e resolvê-lo, comecei a estuda-la, sob diversos aspectos. Biológico, espiritual, cultural etc.
Hoje me relaciono bem, tanto com o assunto quanto com a perspectiva da minha própria. Vai acontecer, afinal, embora não se saiba quando ou como ou onde. E diante da imprevisibilidade, me mantenho sempre de malas prontas. Não, eu não enlouqueci! Eu encaro diariamente a BR 116, trecho Canoas-Porto Alegre, um dos mais perigosos do país, tenho arritmias cardíacas violentas, tenho alergia a duas mil coisas, um histórico familiar de AVC, infarto e todas as doenças cardiovasculares imagináveis, 38 anos e uma glicemia que não baixa de 110 e uma teimosia crônica e falta de vergonha na cara de não parar de tomar café com açúcar e Coca Cola. Não tenho histórico de câncer na família, mas vá saber. Sem falar no risco de tiro, facada, prédio desabando, esses que todos correm a todo momento. A gente sai de casa e não sabe se volta!
Malas prontas são o beijo nos meus queridos quando os deixo, não ficar de mal com as pessoas que eu amo, pedir perdão a quem eu magoei e perdoar os que me magoaram (apesar de ser muito falastrona, eu guardo mágoa de muito pouca coisa na vida), usar sempre as frases mais importantes: eu te amo, tu és meu amigo, obrigada por tudo, eu te admiro muito.
Lembro de um amigo, o Carlos, durante a cerimônia de cremação da namorada assassinada em um assalto: “O que me consola é que eu não fiquei devendo nada. Eu disse ‘eu te amo’ todas as vezes que eu quis dizer e todas as vezes que ela quis ouvir. Não deixem de dizer que amam alguém. Não gasta! E nessa hora é só que consola!” Nunca esqueci disso. Aprendi a fazer minhas malas com muitas pessoas.
E enquanto a dita cuja não chega, a gente tenta viver da melhor maneira possível. Nem que seja para tirar um sarro dela: “Aí, véia, chegou tarde! Eu fiz tudo o que eu queria na vida!”


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