quarta-feira, 6 de julho de 2011

Pitando

Hoje eu vi uma coisa bem nojenta!

Que o cigarro é extremamente difícil de deixar, todo mundo sabe. A dependência causada pela nicotina é muito complicada de combater e parar de fumar exige sacrifícios e disciplina. Mas às vezes eu presencio algumas cenas proporcionadas pelo fumo que chegam a ser inacreditáveis. Trabalhando num hospital, estas imagens são verdadeiramente bizarras!
Tempo atrás, vi uma jovem, melhor dizendo, uma menina, sentada na escada da farmácia que fica em frente ao hospital. Sobre suas pernas, um bebezinho que, pelo tamanho, era recém-nascido. O nenê estava solto sobre as pernas da garota, ela não o estava segurando. Segurava, sim, o cigarro, que fumava sem nenhum constrangimento diante daquela pobre e indefesa vítima que tinha no colo. Aliás, mães fumando enquanto levam os filhos pela mão para a consulta por causa da asma, são muito mais comuns do que eu gostaria de ver.
Outro dia, vi um homem de meia idade com um nódulo imenso (devia ter o tamanho de uma laranja) no pescoço, com uma lesão ulcerada neste nódulo, e o pito na boca. Ao seu lado, uma menina de seus nove, dez anos.
No pátio do hospital, numa área em que era tolerado fumar (agora esta área foi extinta, como manda a boa coerência de uma instituição que pretende cuidar da saúde), um homem fumava pela traqueostomia! É claro que tinha ao lado um jovem acompanhante para admirar a cena.
Me pergunto, por que esta predileção em ter a platéia infantil para esse tipo de absurdo?
Hoje, enquanto esperava meu ônibus na parada em frente ao hospital, o extremo da nojeira: uma mulher jovem, razoavelmente bem vestida, pobre, provavelmente, mas com alguma condição financeira, o que faz pensar que tenha algum acesso à formação ou, minimamente, à informação. Estava acompanhada da mãe e da filha, uma menina com não mais que quatro anos, ainda chupando o bico. Ambas também estavam bem apresentadas, confirmando a hipótese de que não se tratam de miseráveis. Pois a tal mulher estava fumando. Lá pelas tantas, ela deixou cair no chão o cigarro, que estava pela metade. Conversando com sua mãe, simplesmente abaixou-se, juntou o cigarro e o colocou novamente na boca. Não deu nem uma assopradinha, nem uma limpadinha, nada, botou na boca e seguiu fumando e com a conversa que estava bem animada.
Se a pequena que estava com ela tivesse deixado cair a chupeta e a juntasse e colocasse diretamente na boca, como o exemplo materno bem ensinou, o que teria acontecido?
a)      A criança levaria uma bronca da mãe?
b)      A criança levaria um safanão da mãe?
c)      A mãe explicaria gentilmente “faça o que a mamãe diz, mas não faça o que a mamãe faz”?
d)      Azar o da criança, a mãe nem notaria, aliás nem a avó (parece que esta também não percebeu que a filha juntou o cigarro do chão e botou na boca)?
Uma parada na frente de um hospital: por ali circulam os sapatos de um monte de gente que anda pelos corredores, que pisa em respingos de escarro, de vômito, de sangue, e depois leva tudo isso para o ponto de ônibus. Pior, por se tratar dos arredores de um hospital, frequentemente se vê, nesta parada, marcas de sangue, escarro ou vômito no chão.
Mas, francamente, não sei se eu senti mais nojo do cigarro sujo ou do exemplo mal colocado. Afinal, o que não mata, engorda, e o que é do gosto regala a vida. Mas, e estas crianças destas tristes cenas? Que imagens guardarão consigo?

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