quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Toninho



Meu irmão, Antônio Augusto, está se formando.

Eu tinha quatro anos e lembro perfeitamente: eu queria uma irmãzinha! Quando vi aquele guri, a decepção foi instantânea. Aí ganhei um canarinho, para me compensar pela irmã que não veio. Canarinho que ele tratou de soltar quando estava com um aninho. É. Começamos com o pé esquerdo.
A gente se estranhou um monte de vezes. Eu, a mais velha dos irmãos, tinha que cuidar para que as pestes não aprontassem nada. Era impossível! Coisas quebradas, bagunça total, documentos que sumiam, eu era culpada por tudo. E não adiantava dizer “não fui eu”. A resposta era invariavelmente: “devias ter cuidado para que teus irmãos não fizessem nada errado”. Não tinha escapatória!
Enquanto o tamanho permitiu, eu mantive o guri sob controle. Mas ficou inviável depois que ele chegou a mais de 1,90m de altura!
Brigávamos por toda e qualquer coisa: o que assistir na televisão, os brinquedos que não eram guardados, os livros riscados...
Mas nem só de brigas nós vivemos!
Uma das primeiras lembranças que tenho dele, além do bebezinho tão pequeno deitado num travesseirinho de cetim azul com pequenas flores amarelas bordadas, somos nós dois embaixo do poncho da mãe, atolados na neve na vila dos Pelúcios, caminho de São Francisco de Paula para Bom Jesus, onde morávamos e onde ele nasceu. O fusca do pai não tinha ar quente. Nevou e se formou lama na estradinha de chão batido. Ficamos atolados. Enquanto o pai tentava conseguir alguma ajuda na vila, minha mãe ficou conosco no carro gelado. Para nos aquecer, colocou-nos embaixo do seu poncho de lã, como uma galinha com os pintos embaixo das asas.
Lembro dos dois mil e quinhentos acidentes com ferimentos que ele sofreu! Caiu do escorregador com uma vassoura na mão. A vassoura fazia as vezes de uma espada. Ao cair, o cabo da vassoura partiu exatamente sobre a boca do meu irmão. Aquela várias farpas da madeira rasgaram a carne profundamente.
Brincando de pega-pega, caiu de boca no chão e quebrou um dente.
Sentado sobre um muro, com as pernas enlaçadas na grade, caiu para a frente e bateu com a testa. Quinze pontos.
Brigou com um colega e levou uma pedrada na testa, no mesmo lugar dos pontos anteriores. Mais três pontos.
Arteiro era ele!
Quando tinha dois anos, morávamos em Cachoeira do Sul, na rua da estação rodoviária. Um dia, achou o portão aberto e sumiu. Foi aquele desespero, todo mundo procurando. Meu pai o encontrou na rodoviária, passeando entre os ônibus. Aliás, portão aberto era algo que ele adorava. Ainda com dois anos, recém havíamos nos mudado para Canoas, novamente achou o portão aberto e se enfiou embaixo de um carro que estava estacionado na frente de casa. Dois homens conversavam e um deles entrou no carro e deu a partida. O outro avisou: “espera, não arranca que acho que tem um gato aí embaixo” e se abaixou para olhar. Achou o Toninho!
E a adolescência? Primeiro, banho não era com ele! Um horror! Depois, um desfile de amigos com apelido de bicho: Porco, Jegue...
E o trago? Tomava todas! Uma noite, na praia, chegou torto! Ao invés de bater na porta, bateu na parede do vizinho! O pai queria o fígado dele. Pensando bem, acho que não queria. Aquele fígado devia estar condenado!
Até que um dia, um susto. Bebeu demais, passou muito mal por vários dias. Foi ao médico e foi diagnosticada diabetes tipo 2 aos 26 anos de idade. Nunca mais bebeu. Nem uma gota. Trocou tudo por água tônica.
Encontrou seu caminho num grupo espiritualista sincrético, no qual exercita seus dons e ajuda as pessoas a sua volta. E no grupo encontrou sua cara-metade, o pedaço que faltava para ser feliz. Com a Andréia, a transformação se consolidou: o eterno “porra-loca” achou serenidade e foco, estabilizou-se e, agora, se forma em Gestão Financeira.
Fico muito feliz com a trajetória do Toninho (1,94m e será sempre o Toninho!!!). Fico feliz que tenha se encontrado nesta vida, que tenha descoberto sua razão de ser no mundo, que se sinta realizado. Posso dizer, do fundo do coração, que tenho muito orgulho do meu irmão! E desejar a ele sucesso e muita felicidade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário